
O carinha gostoso na escola largava a mochila perto dele, desconserto amarfanhado num degrau de escada, sentava do seu lado, passava um braço em seus ombros, chegava chegando com o rosto e dizia colé, maluco. Em super 8, filmando nariz, boca, arfar, arrepio, preparando o gesto casual e sorrindo hiena, Rafael jorrava: amar é estar. Para dentro ou interromperia. Não se apegava às ideias, mas às cenas. E cenas precisam de atores. E atores costumam ser pessoas. Um Rodrigo do futuro criaria tantas cenas que ele mal conseguiria respirar, pulmões inundados de outrem. Mas, disso, ele ainda não sabia.
- Trechinho de "Pervertidos" (Mocho Edições, 2020)
