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  • Foto do escritorSabine Mendes Moura

O que há de perverso em seu destino?

Atualizado: 3 de mar. de 2020

A saga do Rei Artur e suas contribuições para seres humanos mortais e perdidos

A primeira saga arturiana (Le Morte D'Arthur) foi escrita pelo inglês Thomas Malory no século XV. Nela, Malory descreve the wicked day of destiny - o perverso dia do destino - em que o Rei Artur e seu filho bastardo Medraut, filho da irmã de Artur, se enfrentam.


Tudo indicava que Medraut era um traidor, usurpador do trono de seu pai. Durante um momento de trégua, uma serpente se esgueira pela tenda onde os dois conversam, morde um dos soldados que os acompanha e este, instintivamente, ergue sua espada.


Como "erguer espadas" era o sinal aguardado pelas tropas de que pai e filho teriam declarado guerra, começa a carnificina. Os dois estavam quase chegando a um acordo pacífico, mas acabam em lados opostos do campo de batalha. Artur mata Medraut, mas também recebe um ferimento mortal. Matam-se por causa de uma serpente.

A VIDA NAS MÃOS DO DESTINO

A metáfora é clara: há coisas na vida que não conseguimos evitar. Mas, quem nunca quis burlar o #destino, prevenir-se de serpentes e afins antes que o trem descarrilhasse de vez?

Em uma das versões contemporâneas da lenda, Mary Stewart humaniza Medraut (agora, sob o nome de Mordred). Constrói uma teia de intrigas políticas, acasos e lutas, que distancia a traição de Mordred dos desejos de seu coração. Stewart nos apresenta um filho que, acima de tudo, quer apoiar o pai. Mordred chega a pensar em se matar para impedir que a #profecia de Merlim se cumpra - aquela que apontava Mordred como responsável pela queda de Artur.


No meio da confusão, Nimüe, Dama do Lago e herdeira dos poderes de Merlim, diz a Artur que, sim, os homens podem fazer valer sua vontade perante a vontade dos deuses. Os mesmos deuses que informavam a profecia esperavam que os homens fizessem mais do que passivamente aguardar pelos desígnios do destino.

QUEM VALORIZA, VÊ

A #sagaarturiana já foi abordada de mil maneiras e em diferentes formatos. Mudanças de tom - como a descrita acima - ajudam-nos a entender os olhares de cada época sobre temas como o amor, a lealdade, a vitória e o destino.

É sabido que o que valorizamos - como indivíduos e como sociedade - tende a se destacar em meio ao caos de informações, sempre presente, quase à espreita. Poderíamos dizer que, se humanos trazem a guerra em seu coração, todos os "sinais" serão sinais de guerra.


PAUSA PARA REFLETIR

Qual é seu destino? O que há de perverso nele?

Quantas vezes juízes internos e deuses mal interpretados já atuaram para que você e eu não nos levantássemos diante de profecias de fracasso iminente?


Quantas vezes um incidente qualquer nos toma de assalto e passamos ao modo automático, cumprindo desígnios do que há de pior e mais trágico em nossa mente?

Quantas vezes, na história da humanidade, eventos pequenos, gotas d´água no oceano, dão origem a catarses violentas e sem precedente?


Na verdade, poucas. Decorei na escola uma série de incidentes que teriam dado início a Guerras Mundiais e chacinas, mas, hoje, sei que não podemos reduzir eventos tão complexos a um ou dois dias perversos.


O que geralmente acontece - e, nesse ponto, encontro ecos em minha vida - é que certos eventos funcionam como #gatilhos: quando acionados, nos entregamos passivamente ao destino escrito em linhas bem tortas.

UM DESTINO PARA CHAMAR DE NOSSO

O ser humano não é bom, nem mal: é escolha. O ser humano é escolha, mesmo quando decide não escolher.

Chegará o dia perverso do destino da humanidade em que nos entregaremos à violência em nós e ao nosso redor e implodiremos esse mundo por conta de uma gota d´água caindo em um lugar inesperado? Chegaremos ao ponto de não reconhecer que uma serpente pode ser fim ou recomeço?

E se o medo das profecias for tão grande que qualquer coisa seja transformada em sinal de guerra: o erguer de espadas, punhos, um olhar, um assobio, uma criança brincando, um livro, um beijo?


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